10 de dezembro de 2013

Ainda Bem

Ontem percebi seu gosto pela cor azul, e que você não entende nada sobre combinar roupas. Mais uma vez, li nossa primeira conversa, suas palavras continuam desajeitadas. No almoço, eu te trouxe Chokito e você protestou em preferência ao Charge. Mas a verdade é que reclamar já se tornou seu hábito, eu sei que qualquer chocolate te faz feliz. A noite, descobri seu suco preferido, enquanto tentava te convencer que é melhor criarmos gatos ao invés de cachorros. E quando fomos pra cama, depois de assistir Jogos Vorazes pela 5º vez, soube que você adora massagem, cafuné e beijos roubados no fim de uma tarde. Então adormecido, eu vigiei seu sono, e notei que cada dia é uma oportunidade de te conhecer melhor. Deitado em seu peito, compreendi que em cada encontro tenho a chance de enxergar através das partes que você escolhe me mostrar.

Se existe tanto a ser dito, por quê me calar? Se existe tanto a ser vivido, pra que me esconder? Julguem-me ingênuo, pois que seja. Agora eu não tenho mais medo. Porque antes de você chegar, a única coisa que eu sabia escrever eram histórias tristes. Antes dos seus pés entrarem e decidirem estadia, todo afeto era temporário, nenhum amor despertava junto com o dia. Agora eu fecho os olhos e sei que você continua ao meu lado. Não existe nada melhor do que acordar e saber que vamos brigar pelos lençóis bagunçados, ou por travesseiros roubados de madrugada. Brigas de mentirinha, que terminam em rendição, bandeiras brancas levantadas em forma de abraços apertados.

Eu não me arriscaria se não fosse por você, se não fosse a sua mão pra segurar a minha. Eu certamente erraria a condução, e me encontraria desviado outra vez, se não tivesse a confiança dos seus olhos, se o seu sorriso não se fizesse presente. Ainda bem que a gente vai se ver hoje, ainda bem que mais tarde estaremos juntos de novo. E como em Vagalumes Cegos, "vamos ao parque, discutir Caetano, planejar bobagens e morrer de rir". É isso que a gente sabe fazer, é isso que eu quero desde que você apareceu, desde que seu coração lutou pelo meu e venceu.

23 de novembro de 2013

Para Os Ouvidos Da Alma

Nunca pensei em escrever para um desconhecido, nunca pensei que poderia ser refletido em um espelho que não é meu. Mas eu me vejo nele e aposto que ele se vê em mim, mesmo que não perceba, mesmo sem admitir. Frequentamos o mesmo lugar, sentamos na mesma mesa, mas não trocamos palavras, apenas olhares. Não nos tornamos íntimos, apesar de tão próximos.

Entre um gole e outro, há um silêncio que desabafa sobre as dores de uma perda, um silêncio que incomoda mais do que qualquer ruído, mais do que uma longa discussão ou briga. Entre um gole e outro, eu ouço o que ele não diz, com os ouvidos da alma, e respondo num suspiro: eu sei que você sente, eu sei o que é ter um coração partido. Quando quem amamos abandona o barco, parece que ele vai naufragar e levar para o fundo de um oceano escuro nossa alegria, nossa vontade de viver. Aparentemente é impossível retornar a superfície. Quando quem amamos larga as nossas mãos e decide caminhar para longe dos nossos passos, a estrada fica confusa, as avenidas sombrias, e não encontramos um atalho que aponte qualquer saída. Quando quem amamos diz "eu não te quero mais", toda vontade se concentra em voltar no tempo, culpar os erros ou blasfemar contra os deuses que inventaram o amor. 

Ainda que a música esteja alta e o local convidativo, nada envolve o rapaz ao meu lado. Por um momento ele vira o rosto, tenta ignorar minha presença. Quando a gente sofre, a solidão às vezes é mais agradável. Eventualmente, seu corpo procura por companhia, inútil busca quando somente uma serve. Entretanto, continuamos cientes durante o resto da noite, permanecemos ligados pela nossa conversa muda. 


Se conto a vocês essas coisas, se, por acaso, atrevo-me a escrever a respeito do sentimento alheio, é porque me identifico. Afinal, aqueles que fingem sentir jamais vão entender. Aqueles que não arriscam e se guardam por inteiro não podem nos julgar. O amor ou a falta dele é para os corajosos. Eu me orgulho do meu amigo desconhecido, eu me orgulho das suas linhas tortas. Porque no final, ele vai descobrir assim como eu, que não existe escrita certa. Até os rascunhos cheios de borrões valem a pena.

17 de novembro de 2013

Saudade, parte II

Saudade é um bebê chorão que não se acalma em outros braços, é um pedinte insistente que aparece nas horas mais inoportunas.

(Se você chegou agora, corre aqui na PARTE I)

Tive que falar outra vez, porque uma não foi o suficiente. Tive que escrever de novo, porque a ausência que sinto não se esgota. Se cada texto conta uma história, eu escolhi continuar com essa. Não aprendi a lidar com a dor da falta, não aprendi a transformá-la em lembrança feliz, daquelas que qualquer um se orgulharia em guardar num porta retrato. Aí, dizem, até parece que não tenho outro assunto. Quem sabe política ou talvez arte, quem sabe outras visões, outras prioridades. Elas existem, eu sei. Eu é que não quero dissertar sobre, eu é que tenho a necessidade de manter meus sentimentos em exposição para vivê-los. Já tornei esse tema minha obsessão. Mas não adianta: ouvir gravações, ver fotos, reler as mensagens, nada resolve. Encho quantos copos de cerveja eu quiser, mas o coração permanecerá vazio. 

Protesto! Contra os monitores em LCD, palavras de teclado touch e cartas de amor convertidas em simples dados binários. Cansei! Chega um momento que toda essa tecnologia destrói as pontes e constrói muros. E as minhas palavras são a forma de quebra-los, o único jeito que eu achei. Chega um momento em que a gente não aguenta tanta agonia no peito e grita, nem que seja baixinho: eu me rendo! Porque no final de cada dia, eu preciso da presença, do cheiro, das mãos. Eu quero vestir quem amo como um casaco, como se fosse minha própria pele. Qualquer coisa menor que isso é ilusão, qualquer coisa menor que isso não servirá pra nada. Nada além da parte III, provavelmente.

11 de novembro de 2013

Cada Um Dos Lados

"I let it go and now I know, a brand new life is down this road. And when it's right, you always know, so this time I won't let go." (Avril Lavigne)


Para mim, jornalista, parece que não existe tempo: toda inspiração é presente, cada encontro conta um conto, minha ampulheta não se cansa de girar. Para mim, poeta, é impossível esquecer a escrita: jamais paro a caneta, nem abandono o papel. Eles são mais que companhia, muito mais que profissão. Hoje são minha mulher e meu marido, a primeira se casou com a minha carne, o segundo com meu coração. Para mim, humano, não há orgulho ou vergonha do que chamam de fraqueza. Aos olhos, todo sentimento é belo e até o que parece mau pode se transformar. Para mim, que te encontrei, chegou o dia de fechar os livros e abrir a vida. Abrir para mais sorrisos e oportunidades, abrir para amar e permitir ser amado. Abrir-me e viver-te sem pressa, em cada uma das horas que contarão a nossa história.

5 de novembro de 2013

Depois Do Cigarro E Das Latinhas

Eu demorei demais para pôr palavra por palavra no lugar, para organiza-las até que fizessem sentido, até que aliviassem meu peito de tanta mágoa, ou arrancassem dele a dor. Dois anos e alguns meses depois e você ainda é pedra no sapato, é incomodo no peito, é livro sem conclusão. Dois anos e algumas paixões depois e você insiste na mania de renascer entre as experiências, e me mostrar partes que eu não via antes. Dois anos e os seus erros conseguiram transformar todo bem querer em um misto de raiva e decepção que nenhuma distância ou tempo foi capaz de curar.

"Mirror on the wall, here we are again /
Through my rise and fall /
You've been my only friend."
(Bruno Mars)
Confesso culpa, entre tropeços e arrependimentos, nunca fui um bom professor. Mesmo assim, tive que ensinar meu coração a não sofrer pela sua frieza disfarçada na conversa suave, nem a acreditar nas mentiras que, através dos olhos castanhos, soavam como verdades. Contudo, antes de aprender, ele te aceitou de volta. Sim, todas as vezes que você apareceu, como criança que recebe qualquer carinho com um sorriso, como corpo abatido que acha descanso em uma cama, mesmo que dura. Mas te aceitar era simples aparência, era meu melhor engano. O seu retorno não durava nada além de um cigarro, duas latinhas de Heineken e três palavras bonitas.

Seu ombro não é mais consolo, sua voz não é mais conselho e todo vestígio de carinho morreu aos poucos pelas injúrias no meio do caminho. Joguei fora a nossa foto - a única que tinhamos, junto com o anel que você deixou aqui. Sacrifiquei as boas lembranças em busca de paz. E o fato é que você sempre volta a ser a criança carente de atenção que não consegue ficar sozinha, que busca proteção ao invés de proteger, que por imaturidade, arranca ao invés de doar um pouco, e cada vez mais de si, e assim se tornar alguém melhor. E o fato é que talvez seja por isso que o destino nos separe e, por breves momentos, una de novo. Para que eu entenda, e saiba o tipo de pessoa que eu não quero ser.