13 de fevereiro de 2016

Truco

Engano a mim mesmo ao dizer não repetiria os erros da última vez, trapaceio como num jogocomo quem blefa para fazer os outros acreditarem numa verdade inventada. Dou a cara a tapa, grito e bato na mesa e, por um momento, penso que qualquer outro compraria meu teatro, mas não você. Você nunca aposta alto quando existe a chance de perder.
 
Você não se apressa ao dar as cartas, e não sente medo, e suas mãos parecem não suar, e seus olhos não mudam de direção, e não há nenhuma tentativa de disfarce. Você joga como um cavaleiro nobre que nunca perde a razão, como um Buda ou Gandhi do século XXI, como alguém que está em paz por saber exatamente o que quer e o que faz.

Eu te invejo, como você ousa ser o que eu preciso? Eu te admiro, por isso te mantenho por perto. Mesmo que agora nossas palavras sejam armas carregadas, mesmo que o quarto seja um campo de batalha, e o nosso amor a causa da terceira guerra mundial.
 
Ás vezes, a vida está escura e não consigo enxergar o óbvio, então agradeço a Deus pela felicidade da memória, que nos recorda o por quê de estarmos aqui. As vezes, o dia está confuso e estaciono meu coração em alguma música triste, então Deus abençoe seus olhos, eu olho profundamente dentro deles até me curar.

Teremos até o fim da vida - você disse - para perder e ganhar um ao outro. Teremos esta e outras mais, se possível, porque uma talvez não seja o bastante.