18 de novembro de 2016

Pergunta

Algo sempre me traz de volta a este lugar. Sentado a beira da cama, um bloco de rascunho apoiado em meus joelhos, uma caneta Bic na mão. Algo sempre desperta a vontade de escrever. Às vezes é saudade, às vezes é tristeza, e da última vez foi maldade, e hoje?

Hoje foi uma pergunta. "Você sabe o que é o amor?", disseram. Eu, que geralmente nunca sou pego de surpresa, não sabia o que responder. Eu, que tenho tudo na ponta da língua, gastei uma tarde inteira até encontrar um argumento que me coubesse. 

É que não gostaria de ser leviano, desculpem-me, mas não acredito no amor Beleza Americana que Hollywood cultivou. Este amor quente, apressado, irracional, geralmente de curto prazo, comumente com um final trágico. Amor é se doar, mas tememos fazê-lo porque, no fundo das palavras não ditas, esperamos que todo carinho venha com a certeza de retorno. Se não vier, e daí? Amar é não esperar nada em troca. Amar é colocar o outro em primeiro lugar, e qualquer coisa fora disso é somente suprir carência. Perda de tempo, uma bobagem. 


Quando alguns dias são mais cinzas que outros, por exemplo, costumo me lembrar que o amor nunca muda e que o afeto mora nos detalhes. Na ligação que pergunta se está tudo bem, na voz que diz "vem aqui", na camisa velha que enxuga as lágrimas, na paciência de assistir um filme pela 5º vez apenas para arrancar mais uns sorrisos. Quando algumas estações são mais frias que as outras, adestro meu coração a recordar do que lhe aquece: a companhia de quem veio e, por ternura, decidiu ficar. Um, dois, três, cinco anos, não importa. Que todo xodozinho dure tempo suficiente para nos ensinar a aceitar o bem querer que nos é dado.