31 de dezembro de 2016

Como Elis

Eu quero me curar do que é passado.

Há um peso nas conversas que tenho, nos textos que escrevo, nos compromissos que agendo. Existe um disfarce atrás de cada linha e de cada sorriso que dou. Uma covardia em forma de blog, que me faz acreditar que contar ao mundo seria o remédio que evitaria uma conversa a sós.

Nós, que já estivemos sentados em meu tapete, não temos mais contato, nem trocamos emails ou cartas. Nós, que dividimos cama e sobremesas de palito no congelador, usamos agora uma comunicação telepática. Em cada encontro por acaso, é um olhar que não chega a falar, é quase dizer, mas desistir no meio do caminho.

Na tentativa de te punir com palavras, quem saiu castigado fui eu. Movi alguns móveis de lugar na esperança de fazer parecer jovem, uma casa empoeirada de lembranças e mágoas. Por não limpar a mobilia, o pó subiu, espalhou-se, tornou-se motivo de alergia e irritação. Os dias passaram e não sararam a raiva guardada, e a minha espera foi como segurar a água que sai da pia, uma burrice, um esforço inútil.


O tempo, dizem, é a resposta para tudo. Mentira, você sabe, ele nunca é amigo dos ansiosos. Apesar disso, estou pronto para desfazer este nó no meu estômago, estou preparado para ser livre do sentimento de culpa. Minha consciência está madura e meu coração está aberto para perdoar e esquecer, porque minhas mãos não suportam mais carregar uma bagagem que vale por dois. 

Quero a sensatez de um adulto, e a leveza de uma criança. Quero te abraçar e te reconhecer como outro alguém. Quero cantar como Elis, quando diz "o novo sempre vem".