17 de junho de 2014

Quando O Sol Se Pôs

Acabou, não como das outras vezes, de mentirinha. Agora o fim é verdadeiro, tão concreto quanto o chão que eu piso, mais doloroso do que um soco na boca do estômago.

Acabou, não como das outras vezes, cheias de conversas e dramas intermináveis. Agora tudo é calmaria, e o barulho que enchia o quarto de discórdia cessou. Não há mais conselho amigo, nem conciliação depois das brigas.

Acabou, não como das outras vezes, onde a gente sempre procurava um culpado. Agora que pouquíssima coisa sobrou de lembrança, quase nenhuma tem importância, e nosso lamento é uma delas.

Acabou, não como das outras vezes, quando eu escrevia cartas de divórcio e você as rasgava. Agora não precisamos de escrita, nossa conclusão já está selada.


"I always thought it was sad the way we act like strangers. After all that we had, we act like we were never met." (The XX)

14 de junho de 2014

Mistura De Dois


Efeito colateral é a consequência de uma causa, é o fruto da semente plantada um dia, é o romance prenunciado entre uma ação e suas infinitas reações.

Primeiro a insistência, depois o remorso. Insistimos e gostamos de falar, lutamos ao invés de nos render, escolhemos ficar ao invés de ir embora. Se a gente soubesse como as coisas são no fim delas, tomaríamos outras decisões? Se um relance do futuro nos fosse apresentado, haveria menos lamento? Ninguém sabe além do que se vê, e é por isso que existe o arrependimento. Talvez das atitudes repentinas, dos corações que cativamos ou partimos, das palavras impensadas e da língua sem censura.

Efeito colateral é a alergia que nos acomete no lugar da cura, a prisão que sucede o julgamento de um crime, o sono que entorpece quando, na verdade, gostaríamos de estar de olhos bem abertos.

Primeiro a escolha, depois a perda de controle. A vontade se torna intenção, a intenção já é esquema premeditado e o esquema se faz atuação. Em seguida, game over. Nenhuma força ou poder, nenhum homem ou ser espiritual, nem espaço ou tempo, pode apagar diálogo, desmanchar beijos, sufocar a esperança que nossas promessas inspiraram.

Porque as nossas ações são como peças de dominó enfileiradas, que caem uma após a outra, uma reação em cadeia dada por um simples toque inicial. Da mesma maneira que cinco minutos de coragem mudam o destino de uma vida inteira, a fraqueza momentânea arruína sonhos, despedaça expectativas e põe ponto final em qualquer plano idealizado. 

Não existe aplauso para cortinas que se fecham, ou para luzes que se dissipam. Apenas um palco vazio. A companhia e a solidão do que fizemos e de quem nos transformamos.