8 de maio de 2014

À Deriva

"This moment keeps on moving, we were never meant to hold on" (Jack Johnson)
 

Eu fui seu por uma noite. Somente por algumas horas seus braços embriagados pararam ao redor do meu corpo. Apenas seu colchão, e nenhum outro, foi espectador dos nossos beijos. Eu fui seu por uma noite. Sem pressa, sem pedido formal ou plano antecipado. 

Não marcamos encontro, nunca fomos um casal. Tropeçamos um no outro e formamos um par por acidente, de um jeito que ninguém poderia imaginar. Livres. Porque para romance impensado não existe começo, muito menos fim. É um meio permanente, como um daqueles marca página que divide antes e depois, que anuncia em silêncio "paramos aqui". 

Eu sei que não nos tornaremos passado e jamais teremos um futuro. A nossa história é como o seu cheiro, não durará mais um dia, e sairá facilmente da minha camisa, assim como os meus pés se desenrolaram dos seus quando amanheceu e eu precisei ir embora. 

Não guardo foto, não tenho telefone e nem tive tempo de perguntar o que gosta de comer no café da manhã. Você nem sabe que "Gross" é meu segundo nome. Sua alma quer envolver o mundo e conhecer lugares que eu já cansei de visitar, seu coração bate por novidades que o meu, experiente e fatigado, não pode oferecer.

Até dedicaria aos seus ouvidos alguma canção bonita, e te entregaria meu coração no decorrer dos nossos passos, se eu pudesse. Mas não é o caso. Nossas pegadas continuarão separadas e as perguntas que seus olhos me fizeram sem respostas.

É por este motivo que você se tornou recordação, que eu quis te transformar em escrita. Abro as páginas e lembro, a memória de uma noite permanecerá.

5 de maio de 2014

Na Minha Roda

Gosto de mesa de bar, calçadas aconchegantes e bancos de praça familiares. Gosto pela cumplicidade que doam a mim e aos meus pecados, pelo silêncio que me oferecem quando lhes confesso segredo, pelos inúmeros risos que trouxeram a cada chegada, por testemunharem a angústia dos olhos em todas as despedidas. 

Gosto de copo cheio, pés no asfalto frio e vento suave na nuca. Gosto porque nenhum deles me julga, não são capazes de me lançar qualquer olhar torto e, nem sequer uma vez, preocuparam-se em me dar conselhos da Carochinha que eu encontraria facilmente na sessão de auto ajuda da livraria mais próxima.


Gosto das histórias que a mão não se permite escrever e boca não pode contar. Vontades insanas, intenções incompreendidas e experiências libertadoras que poucos aceitariam dividir. Sentimentos mesquinhos, dúvidas que assustam e uma lista extensa de pequenos delitos que, com a perdão dos especialistas, ninguém consegue tratar.

Gosto dos lugares e das pessoas mais improváveis, onde estão os ouvidos sempre atentos e as respostas mais sinceras.