20 de abril de 2016

Olá, Leãozinho

A minha escrita é tardia, mas meu coração é sincero. 

Posterguei o quanto pude pôr março em palavras, adiei porque causa tristeza admitir que precisávamos nos despedir um do outro. Prorroguei a saudade em nome de uma esperança que não me sustenta mais, em nome de uma expectativa que não tem mais lugar aqui. Dos meus desabafos, não ouvir seu rugido ao chegar na minha calçada é que mais dói. Não afagar a sua juba deitado na beira do sofá, não fazer dos seus lombos a minha cama.

Será que a escova que você comprou pra que eu usasse, ainda descansa ao lado da sua? Você voltou a ler os mangás que eu deixei na sua estante? Um dia vai amanhecer frio o bastante pra te convencer a usar o moletom que te dei? As minhas dúvidas são simples, porque a falta que você faz é complexa demais e eu já desisti de entender.

Eu não sei se nos separamos há um mês ou há alguns minutos atrás, porque, na verdade, digo adeus aos poucos todos os dias. É também aos poucos que me acostumo com a ideia de que jaula nenhuma podia te prender, destino nenhum deixaria suas patas permanecerem junto a mim. Leãozinho, leãozinho, você é muito mais que meu animal de estimação. Muito mais do que um pupilo que ensinei alguns truques, que eu alimentei com minhas palavras e o meu afeto durante estes anos. Você é meu herói, meu motivo de orgulho. 

Mas a necessidade da distância é mais forte agora. Enquanto isso, Cícero vai me distrair com uma de suas músicas sempre que eu quiser me lembrar. Cuide-se. Cuide desses olhos castanhos que eu amei.


"Mas tudo bem, o dia vai raiar, pra gente se inventar de novo" (Tempo de Pipa)

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