10 de março de 2014

Carta Àquele Que Cresceu

Olá.

O que te aconteceu? Nós fingimos entender porque detestamos tocar no assunto, mas de vez em quando eu ainda me pergunto. Guardo minhas teorias em silêncio, escondo por medo de ofender, tenho o cuidado de respeitar as suas crenças, mesmo que elas me pareçam sem razão, mesmo que me confundam muito mais do que expliquem. 

Onde você foi parar? É que apesar de caminhar todos os dias ao seu lado, eu não te reconheço. Os olhos grandes e brilhantes de bichano deram lugar a um par opaco de vista, o corpo alado ganhou raízes, que de tão profundas não te permitem mais voar. E chego a pensar no sorriso, mas dele não sei escrever, quase não o vejo mais.

Quem você se tornou? A sua resposta se tornou mistério, e desvenda-lo significa achar o motivo que cortou o nosso laço, que desfez a nossa ligação. Significa pôr um fim a diálogos que se cruzam, mas são intocáveis entre si. Porque barba farta, óculos caído e saia rodada não me comunicam, nem fazem confissões. São todos de fora para dentro, nunca de dentro para fora.

A minha própria conclusão é que talvez você cresceu e agora seja assim, como Clarice disse uma vez, triste e solitário como qualquer outro adulto.

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