1 de janeiro de 2014

Escudo

Viver conforme o que o coração sente parece uma boa ideia até você perceber que a caminhada não é uma ida ao parque, não é uma volta na praça. Viver conforme o que o coração sente é um autêntico passeio de montanha-russa, que sobe devagar e desce sem freio, sem permissão para pausas ou intervalos para recuperar o fôlego. Intensidade é eufemismo, tentar explicar é inútil e desabafar entre as linhas é um modesto escudo contra as emoções que de vez em quando ocupam nossa entrada.

Não sei quanto a vocês mas, para mim, insegurança é o tipo de sentimento que não se pode evitar. Mesmo que a gente feche a porta, ela provavelmente vai entrar pela janela, ou então achar qualquer fresta entre uma dobradiça ou outra para se acomodar sobre o nosso aposento. Não sei quanto ao resto do mundo mas, para mim, insegurança é o tipo de sentimento que acompanha o receio de um futuro que nunca se vê, nem se controla. Um futuro que é impossível segurar com as mãos, nem racionalizar para que faça sentido, para que seja conforme a gente sempre sonhou que fosse. Insegurança é o tipo de sentimento corriqueiro que inspira um texto que ninguém quer escrever, um frio constante na barriga, um tremor na ponta dos dedos, no peito que respira devagar e pede paciência no meio de um mar agitado chamado medo. Medo de uma criança que não cresceu, de um adulto de auto-imagem deformada, de qualquer ser humano que pulou algumas lições da cartilha chamada Vida e esqueceu do capítulo que diz: o amanhã jamais é governado. Insegurança é o tipo de sentimento que vem quando um pedido é recusado, e inevitavelmente surge a vontade de dar dez passos pra trás porque a impressão é que tudo que a gente construiu cuidadosamente pode desmoronar no instante seguinte.


E pra quem acredita que escrever ajuda ou traz alguma cura, engana-se. As palavras servem no máximo como anestésico, a morfina do escritor, a sua maneira de se mostrar ou, surpreendentemente, esconder-se. Na literatura, o coração é invisível, revela apenas o que quer, finge sentir e finge tão bem que a farsa se confunde com a sua própria realidade. Na literatura, a alma vive, voa livre e mergulha em águas escuras onde a pressão é alta e o desfalecer frequente.

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